Blog da Cristina Vieira
Reflexões, contos e coisa e tal
Marcadores
.
28 de jan. de 2024
Regras do mundo moderno
4 de jan. de 2024
DEPOIS DAQUELA FOTO *
Lá pelos quarenta anos a gente se olha no espelho, confere tudo e se promete: nunca vou envelhecer. "Isso tudo que estou vendo no espelho não pode sumir assim, de uma hora pra outra."
Eu fazia essa brincadeira comigo mesma: brincava de não envelhecer. Era de mentirinha mas me fazia sorrir. Além do mais eu me sentia realmente ótima com quarenta anos, ótima com quarenta e cinco, ótima com cinquenta. Era esse o meu sentir.
Para ser sincera só fui começar a notar a passagem do tempo lá pelos 55 anos. Aí sim, não pude mais negar para mim mesma que as coisas estavam mudando.
Eu sempre dizia que não me incomodava com o passar do tempo. Não era mentira. Acontece que eu não sentia o passar do tempo! Como me incomodar com algo que não sinto nem percebo? Fiquei assim, nessa doce dormência por vários anos. Era um delicioso sentimento de embalsamamento.
Mas... os 50 foram passando em generoso silêncio, sem se despedir e usando pantufas, pra não chocar. E com a mesma reverência respeitosa vieram 56, 57, 58... Foi quando comecei a notar umas "pequenas imperfeições estéticas" aqui e acolá. Coisa pouca, nada para alarde. A principio eram todas perdoáveis, afinal de contas até adolescentes têm imperfeições. Só que aos poucos fui constatando que o que eu até então chamava de "imperfeições" eram na verdade indiscutíveis sinais de envelhecimento. Aceitei com certa tranquilidade. Primeiro porque há jovens com rugas, com papada, com cabelos brancos e barriguinha. Além disso a minha disposição não mudara e minha saúde continuava intacta.
Nada disso era suficiente para que eu me sentisse velha. Apenas eu não era mais jovem. Ok.
Até que um dia...
Um dia alguém me fotografou desprevenida, Em resumo foi isso. Mas trocando em miúdos: foi estranho, doído e repentino - como veremos a seguir.
Eis que eu estava em um evento, feliz da vida, enquanto pessoas tirava fotos aleatórias, como de costume. Lá pelo final do dia desejei ver as fotos - como de costume. Foi aí que me deparei com uma senhora cuja presença até então eu não notara. Era eu, no esplendor da minha decadência. Toda feia.
Vi de uma vez e sem anestesia tudo o que o tempo me fizera e que eu alegremente ignorara até então.
Obviamente durante a vida eu já havia tirado fotos ótimas e fotos péssimas, mas aquela ali foi demais. Foi um tapa de realidade. Envelheci 10 anos de uma só vez. Ninguém merece.
Brincadeira: merece sim.
Com aquela foto eu escorreguei, caí na real e bati a cabeça. E ao que tudo indica, acordei. Como nesses filmes onde os personagens pulam o tempo e invadem o futuro (ou o passado) eu me vi no futuro. Vi como eu ficaria. Só que, no caso, "o futuro era o presente". (Entendeu?). Eu me surpreendi estando muito mais velha do que supunha. Muito mais velha do que me sentia. Agora seria necessário alinhar o físico com o espírito: "- vai ter que encaixar nem que seja debaixo de cacete".
Nem deu trabalho. Sem fazer força alguma coisa mudou radicalmente na minha cabeça desde então. Não me vejo mais da mesma forma. Não consigo. Aquela foto teve, em mim, o mesmo efeito que aquela moeda teve no personagem de Em Algum Lugar do Passado. Assista.
Agora me sinto a vontade para dizer a mim mesma que estou cansada, que estou com sono, que estou sem saco, que perdi a coragem para certas viagens, que me dói a perna. Meu medo é esse: começar a me convencer de que acabou, de que não dá mais e é o fim. Meu medo também é aquela voz dentro da cabeça dizendo para eu jogar a toalha e desistir de querer, desistir de aprender, de sonhar, de esperar. Aquela vozinha mandando eu jogar a toalha, queimar os shortes e ficar em casa de camisolinha.
"- Desista" Pra quê esse batom ridículo? Não fica mais bem em você. Pra quê outro brinco? Vista qualquer coisa! Ninguém liga! Relaxe!"
De repente me senti ridícula com meus biquínis. Nunca mais quero usar biquíni. Estou reavaliando as minhas roupas, os meus jeans, meus humildes decotes e alcinhas. Batom vermelho? Esmalte preto? Brincos grandes? Chega.
O "lado bom" é que agora passei a me conceder generosas desculpas. Preguiça é permitido. Tenho o direito. Engordei? Idade, tudo bem. Não quero ir para a academia? Ninguem me exige isso. Vai que eu escorrego! Pra tudo tem perdão.
Mas pensando bem... acho que é assim, de desculpa em desculpa, que a pessoa desmorona de vez. Então meu desafio para esse ano é resistir às desculpas e fazer ouvido de mercador para aquelas vozes da minha cabeça.
Vou ter agora que viver brigando comigo mesma. Brigando inclusive para decidir se devo ou não devo ter em mente aquela fatídica foto que acabou com a minha juventude imaginária.
No momento só sei de uma coisa: minhas costas estão doendo. Fui.
O VALOR DO PATRIOTISMO *
19 de nov. de 2023
O BELO *
17 de out. de 2023
"MATOU PARA LIMPAR A HONRA"
9 de jul. de 2023
Sofrimento seco *
Coisas esparsas. Ideias esparsas. É assim que sinto esse momento, onde procuro o fio da meada no meio do escuro, no meio da dispersão causada pelas redes sociais. Estou tateando, me procurando. Às vezes esbarro em mim mesma mas novamente escapo.
Preciso voltar a escrever. E não é o que estou fazendo? Não. Não estou escrevendo. Estou prometendo recomeçar. Estou dizendo que quero.
Escrever é como me achar de novo. Meu Deus, como andei perdida! Saudade da minha versão mais real, que é capaz de ver poesia em pingo d'água.
Estou cansada de ser nada no meio da confusão das redes. Me perdi de mim, diluí minhas emoções, reduzi tudo a poucas frases "estratégicas e bem pensadas" feitas para serem lidas rapidamente por quem não quer ler, absolutamente. Que humilhante reduzir a isso os seus próprios sentimentos, suas próprias percepções! Que humildade abominável reduzir tudo para caber no desinteresse alheio!
Se é para falar sozinha que seja aqui no blog, com o estado de espírito de quem escreve em um diário.
Hoje vi um filme triste, muito triste e romântico. Isso parece ter me acordado de algum sono muito longo. De repente me senti novamente capaz de sentir esse tipo de emoção, de dor suave.
A gente vê tanta maldade política que parece que vamos ressecando, endurecendo junto com os outros. Uma floresta sem folhas, só de galhos secos. Mas uma "boa dor" faz o coração amolecer. É como óleo no cascão de ferida. Um filme romântico me pareceu bem terapêutico.
Vejo isso como um bom presságio: poder ser, sim, que a Cristina escritora esteja voltando, cansada de guerra, cansada da inutilidade de sofrer sem poesia.
Nos filmes a gente sofre nos braços da beleza. Mas lendo os noticiários a gente sofre no seco, muito amargamente e sem graça. É o mais nocivo dos sofrimentos porque, ao invés de amolecer a alma (como fazem os filmes) o sofrimento seco faz o contrário: desidrata a gente. Acordar de um filme triste é se sentir feliz porque, afinal de contas, a sua vida é melhor do que aquela. Mas acordar das más notícias e descobrir que não tem para onde emergir é duro.
Não quero continuar mergulhada, sem ar.
22 de mai. de 2023
Carência versus orgulho *
23 de jan. de 2023
A casa dos meus sonhos
11 de jan. de 2023
Várias coisinhas *
1) Esses dias alguém disse, acertadamente, que as crises são necessárias inclusive para a gente descobrir quem realmente somos. É verdade. Esses dias flagrei em mim uns sentimentos pouco nobres que eu pensava não ser mais capaz de sentir. Ok Deus! Já pode desligar a crise. Já saquei.